sexta-feira, 9 de maio de 2008

EVERYMAN

Tenho um casal de amigos aqui no Rio que, quando (e se) partir, muito de mim que ficará será por conta deles. Sinto-me adotado. Hoje tive o prazer de, mais uma vez, os ter perto. Queria dividir com eles certas angústias que me entorpecem os dias e tomam a minha paz. Não queria sentir do nosso encontro uma despedida antecipada. Eles torcem para que eu fique. O chato é que eu tenho o coração mole e posso ceder ao menor apelo – ou chorar, que é provável. Contudo, fico feliz de poder festejar com eles qualquer coisa para aqui ou para Vitória.

Apesar de todos estarmos ligados ao mesmo ramo e coisa e tal, incrível como o Direito apenas pontua nossas conversas e como conseguimos discutir assuntos aparentemente dispares, como a veia comuna de Drummond, à menina má de Vargas Llosa, passando pelas personalidades da política e da crítica política nacional, impressa em geral, financiamento de obras públicas, contratações, corrupção – chegamos a aportar vez por outra em algum grande filme do cinema mundial e por ai seguimos: livres como imagino que bons amigos devem ser.

Daniel e Constança me presentearam no Natal com o formidável livro “Homem Comum” do autor americano Philip Roth. Este romance, um dos poucos os quais me atrevi (sim esta é a palavra certa) a ler desde que aqui cheguei, causou-me certo estranhamento. Não muito pela tensão das páginas iniciais ou pelo final angustiante e abrupto. Mas muito pelo caminho percorrido pelo protagonista: uma senda para a morte inevitável e anunciada logo cedo na cama ao lado, no quarto de hospital que dividia com um menino ainda na infância.

O início e o fim da vida são conhecidos – e não é sobre isso que gostaria de falar. Estou interessado no caminho, na linha frágil que une os extremos. Não me preocupo para onde seguir, mas como seguir. O meu maior medo é chegar ao final e, tal qual o personagem, perceber que me tornei algo que não desejava. Até quando viver ou não mais viver no Rio (uma analogia forçada para o enredo do livro)? Blá! Quero mais saber como. Percebo que une os termos da minha estada uma linha bonita: tenho amigos aqui! E amigos valiosos com idéias e desejos que se tornaram importantes para a minha vida.

Prato principal do nosso jantar? Carinho, aconchego e muitas risadas.

Tenham uma ótima vida

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O próprio indizível