quarta-feira, 28 de maio de 2008

ERROS, SE NÃO TE-LOS, COMO SABE-LOS?

Mais uma tirinha do Laerte publicada na Folha. O quadrinista vem me surpreendendo muito ultimamente. :D

LITERATURA DE EMBARAÇO

Advogado e fios brancos no bigode. Ainda não suporta o cheiro da roupa lavada – memória do eterno pranto da mãe: contrariando as ordens e a vergonha do pai e foi no convento buscar o primogênito, abandonado no terceiro dia, e as irmãs vieram-lhe com sete barras de sabão.

terça-feira, 27 de maio de 2008

PASSARINHO (n. 01)

"Devo confessar preliminarmente que, entre um Conde e um passarinho, prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é por nada. Nem sei mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um passarinho canta e voa. O Conde não sabe gorjear nem voar. O Conde gorjeia com apitos de usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil, vozes dos operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham para o Conde. O Conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o Conde é um industrial, e o Conde é Conde porque é industrial. O passarinho não é industrial, não é Conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe cantar, sabe voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho.

Eu quisera ser um passarinho. Não, um passarinho, não. Uma ave maior, mais triste. Eu quisera ser um urubu.

Entretanto, eu não quisera ser Conde. A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser Conde. Não amo os Condes. Também não amo os industriais. Que eu amo? Pierina e pouco mais. Pierina e a vida, duas coisas que se confundem hoje, e amanhã mais se confundirão na morte."

Trecho de "O Conde e o Passarinho", de Rubem Braga

O Conde e o Passarinho

Página do autor no Releituras
A Casa dos Braga

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino. Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?"

Rodrigo S. M. (narrador de "A Hora da Estrela", de Carisse Lispector)

domingo, 18 de maio de 2008

BROTHERS OF BRAZIL

Sem medo de errar: Brothers of Brazil é o que há de melhor na música feita neste país! Supla finalmente encontrou a medida certa de maturidade no bossa-noveiro João Suplicy, e este a liberdade de expressão que precisava no irmão punk (inclusive adotando um penteado mais legal). Divertidos, sinceros e, melhor ainda, sem aquele bom gosto aborrecido que torna a música de uns e outros por aí com sabor de plástico.

Resenha do Myspace: Supla and João are two brothers from Brazil. Supla is totally Rock and Roll(Punk, Classic Rock) and João is totally Brazilian music (Samba and Bossa nova). Both of them have seperated careers, but by the end of 2007 they performed in London mixing both styles and it turned out to be great.Supla was playing drums and acustic guitar and João was playing acustic guitar and piano.The coolest thing about this union is the harmony of the two brothers voices and their extreme personalities creating a love heat fresh sound.

Boa surpresa!
Um vídeo no Youtube
Site no Myspace

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MANHÃ DIVINA


"Só acreditaria num deus que soubesse dançar"
Nietzsche

Deus também se expressa através da música pop. Hoje eu ouvi In Rainbows, o novo disco do Radiohead.

PS: Ilustração por Laerte/ Para saber o que Ele me disse em uma outra manhã, clique aqui.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

MY BLUEBERRY NIGHTS


Antes tarde do que nunca: ontem assisti o filme novo do Wong Kar Wai - My Blueberry Nights (Um Beijo Roubado). E vejam que uma coisa me chamou uma grande atenção, um lance técnico que revela muito do filme e, ora se não, da própria vida e das relações humanas: em raríssimas ocasiões os atores eram encarados diretamente pela câmera; havia sempre lá uma vitrine, um letreiro em neon, uma figura desfocada em primeiro plano, uma câmera de segurança que flagrava tudo, o vídeo poker, um aparador, o espelho a refletir a ausência do sorriso em Elisabeth (Norah Jones), os cartões postais, etc... Invariavelmente, o discurso era mediado e filtrado, como que se quisesse dizer que a verdade está sempre por detrás de algo - e a própria verdade da moça refletida nos amargurado personagens que cruzaram o seu caminho. Nem o tal beijo roubado (que só valeu na primeira vez, pois que foi o mais bonito) é um registro de algo seguro: um quase yin yang e, portanto mutável e ambivalente. Essa história de Road Movie é engraçada... essa coisa conheça-te a ti mesmo, sabe? Cuioso como um oriental retratou a idéia, que para mim é claramente ocidental - no filme a história termina onde começa, o fim é o começo e tudo é uma coisa só... a descoberta é um processo incessante e nunca um fim, como tradicionalmente se vê nos filmes deste tipo ou como supunha a nossa vã filosofia... por falar nela, o velho Nietzsche já havia dito uma vez, e não me perguntem onde, que o importante não é chegar, mas simplesmente ir: o Road Life nunca começa ou termina.
Fico devendo esclarecimentos para um post seguinte.

sábado, 10 de maio de 2008

APENAS UMA VEZ

Preciso de companhia para ir ao cinema. Quero ver ONCE (Apenas uma Vez), de John Carney, mas não quero ir sozinho. O trailler me arrebatou e a música tema (Falling Slowly) tomou minha paz e me encheu de boas palpitações. Aliás, segundo li, Bob Dylan também gostou e tanto que convidou o casal Glen Hansard e Marketa Irglova para realizarem os shows de abertura de parte da sua turnê mundial. Mas, para além disso - que nem é tão importante assim -, o filme e a musica me pegaram por uma coisa que sempre me toca: uma boa e sincera conversa, uma boa e calma melodia, uma câmera na mão e uma história simples para ser registrada da forma mais bonita possível. Acho que a história é, pelo menos numa redução perigosa, aquela velha coisa de um cara e uma mulher que se conhecem e vão construir um relacionamento... mas não seria essa a coisa mais importante para ser contada sempre e sempre? E, com sempre, há as dificuldades e os conflitos e tudo o mais que torna a vida vivível e instigante. Até bem pouco tempo eu queria me livrar de uns dados problemas e conflitos. Ando percebendo que o ideal não é elimina-los, mas saber utilizá-los... mas isso é conversa para outra mensagem. O que eu queria dizer aqui é: preciso de companhia para ir ver o filme. E nem precisa ser uma amante, uma amiga, uma prima... sei lá. O importante é ser uma mulher, pois, pelo menos no meu caso, a paixão acontece assim. Acho que não suportaria ir sozinho ver este filme, que por tudo, me parece ser muito bonito. Estou numa época em que tudo me toca profundamente e me pinta a vida em cores fortes. Eu já convidei uma pessoa para ir comigo, a amiga que primeiro me falou sobre o filme. Mas a Fernanda mora muito longe. Até que faz parte da nossa amizade essa coisa de desencontros mesmo - somos especialistas em desviarmos um do outro e sempre sem esforço ou propósito algum. Hoje, enquanto conversávamos pelo gtalk, disse-lhe que nós conversamos demais e que não daríamos para algo além do que bons amigos. Eu estava me baseando na premissa de um outro filme belíssimo (Antes do Por do Sol): amantes não conversam, não há tempo para isso; amantes não se beijam, a vida é curta demais; amantes não passeiam, os olhos invejosos os perseguem. Amantes se rasgam em confissão, se mordem todos e fogem, fogem, fogem - há neles o desespero e a angústia dos momentos que restam. Bem, como sempre, eu disse aquela barbaridade num misto de brincadeira e seriedade que acredito fazer o meu charme, e isso porque sempre quero poder estar errado nas minhas conclusões. Aliás, a vida é isso, errar muito. Acho que Once diz algo assim. E ai está a graça de contar essa boa e velha história. Preciso de companhia para a vida.

O Trailler no Youtbe
Uma Resenha no Cinema em Cena

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eva Yerbabuena

Anotei no Orkut da minha mãe estes dias:
"Madrecita, veja este vídeo da incrível Eva Yerbabuena. O espetáculo foi maravilhoso e me fez viajar até os idos de 1990 quando estavamos montando o clube de imigração espanhola em Alegre e papai ficava ouvindo aqueles vinis de música andaluza. Vou procurar o consulado daqui e me informar das programações culturais e tudo o mais. Te amo muito."

EVERYMAN

Tenho um casal de amigos aqui no Rio que, quando (e se) partir, muito de mim que ficará será por conta deles. Sinto-me adotado. Hoje tive o prazer de, mais uma vez, os ter perto. Queria dividir com eles certas angústias que me entorpecem os dias e tomam a minha paz. Não queria sentir do nosso encontro uma despedida antecipada. Eles torcem para que eu fique. O chato é que eu tenho o coração mole e posso ceder ao menor apelo – ou chorar, que é provável. Contudo, fico feliz de poder festejar com eles qualquer coisa para aqui ou para Vitória.

Apesar de todos estarmos ligados ao mesmo ramo e coisa e tal, incrível como o Direito apenas pontua nossas conversas e como conseguimos discutir assuntos aparentemente dispares, como a veia comuna de Drummond, à menina má de Vargas Llosa, passando pelas personalidades da política e da crítica política nacional, impressa em geral, financiamento de obras públicas, contratações, corrupção – chegamos a aportar vez por outra em algum grande filme do cinema mundial e por ai seguimos: livres como imagino que bons amigos devem ser.

Daniel e Constança me presentearam no Natal com o formidável livro “Homem Comum” do autor americano Philip Roth. Este romance, um dos poucos os quais me atrevi (sim esta é a palavra certa) a ler desde que aqui cheguei, causou-me certo estranhamento. Não muito pela tensão das páginas iniciais ou pelo final angustiante e abrupto. Mas muito pelo caminho percorrido pelo protagonista: uma senda para a morte inevitável e anunciada logo cedo na cama ao lado, no quarto de hospital que dividia com um menino ainda na infância.

O início e o fim da vida são conhecidos – e não é sobre isso que gostaria de falar. Estou interessado no caminho, na linha frágil que une os extremos. Não me preocupo para onde seguir, mas como seguir. O meu maior medo é chegar ao final e, tal qual o personagem, perceber que me tornei algo que não desejava. Até quando viver ou não mais viver no Rio (uma analogia forçada para o enredo do livro)? Blá! Quero mais saber como. Percebo que une os termos da minha estada uma linha bonita: tenho amigos aqui! E amigos valiosos com idéias e desejos que se tornaram importantes para a minha vida.

Prato principal do nosso jantar? Carinho, aconchego e muitas risadas.

Tenham uma ótima vida

MOTIVOS (número 1)

"Time for flying rockets
For silver jets
For surfing bombs
Surfing on a rocket"

Já tive zine, site e fotolog. Agora tenho um blog. Na verdade, outro. E este post é quase igual ao que deu início ao anterior. Não por nada estou fazendo este novo... queria recomeçar essa coisa toda e renovar o espírito. Talvez a internet me permita isso, a menos que o google localize as minhas fraquezas, todas espalhadas por ai.
Surfing On A Rocket é o nome de uma música da incrível banda francesa AIR. Já é a terceira vez que utilizo nome de uma de suas composições para batizar um espaço para as minhas idéias. Deixo a brincadeira do "in Rio" muito por conta da geografia e da vontade que espelha.
Uma advertência é imperiosa: tenho sérias dificuldades em escrever aqui. Vão chamar frescura, mas acho que não tenho muito pra falar. Ou melhor, até teria. Empaco na estranheza. Não gosto de falar de mim. Acho difícil achar a melhor forma de escrever e gosto de ser provocado a dizer algo.
Se todo fim é um novo começo, o texto de abertura deste espaço é o final daquele (Everyman).

Perfil

Rio de Janeiro, RJ, Brazil
O próprio indizível